segunda-feira, 18 de junho de 2007

Futuro é comum quando se torna presente

Olhar pra trás é sempre engraçado. Você vê o quanto o tempo se passou e que as coisas que você imaginava para o futuro, durante o passado, se tornam totalmente comuns quando estão no presente. Explico. Quando tinha lá meus oito anos de idade (acho que era por aí. Se não era, era próximo disso), ficava imaginando como seria quando chegasse o ano dois mil. Claro que como muitas crianças da época, também tinha medo de presenciar o apocalipse e ver o mundo acabar com grandes bolas de fogo. Tudo que eu não queria era ver uma besta fera de sete cabeças.

Esse medo de ver o mundo acabar foi alimentado por um primo meu que é bem mais velho e que na época entrou para uma seita religiosa. Depois disso o cara enlouqueceu. Queria pregar suas teorias para todo mundo na base do medo. Quem não congregasse com seus pensamentos estava condenado a passar a eternidade no inferno abraçado com o cão. O pior é que o único livro para ele era o apocalipse e eu como uma criança curiosa me interessava em ouvir as “revelações” sobre o futuro, mesmo que isso custasse dormir com medo e acordar com o colchão molhado todas as manhãs.

Mas mesmo vivendo com esse constante medo, eu tinha, no fundo, no fundo, a esperança de que o mundo não iria acabar. Tinha uma ínfima certeza de que iria ver o dia primeiro de janeiro do ano dois mil e comemorar o aniversário de minha mãe (ela faz aniversário no primeiro dia do ano). Então, me pegando a essa certeza, eu me dava o direito de sonhar com o ano mais esperado que já vi. Até os programas de TV, principalmente o Fantástico, faziam questão de especular sobre a extinção da humanidade, falando de profecias, nas quais estavam também incluídas a de Nostradamus.

Eu sonhava com o fato de chegar aos dezesseis anos de idade. Ano dois mil seria o ano que completaria meu décimo sexto ano de vida... E era mais ousado, pensava além. “Cara, como será em dois mil e dois, quando tiver dezoito anos?” “Poxa! E em dois mil e cinco? Vou ter vinte e um...” Quando criança, ficava imaginando que seria gigante aos dezesseis. Seria um poço de maturidade e que a partir daí estaria pegando todas as mulheres que quisesse. Aos Dezoito, faria tudo que quisesse na vida porque seria maior de idade e aos vinte e um ninguém me frearia, porque seria livre demais e totalmente independente.

O mundo não acabou e todas essas idades se passaram. Vejo que muitas dessas coisas aconteceram e muitas não. Tornei-me independente, mas não fiquei com todas as mulheres que queria. Criei outros valores e não fiz tudo que imaginava, apesar de prezar sempre pela liberdade, além disso, não estou rico como também sonhava. Maturidade? Busco conquistar mais a cada dia, porém, de vez em quando, me pego cometendo erros de criança. O futuro se tornou normal quando virou presente e agora fico a imaginar quando chegar dois mil e quatorze, quando tiver trinta anos. Espero que o mundo ainda esteja dando para se viver e eu seja tão feliz quanto sou hoje.

domingo, 17 de junho de 2007

A Copa agora é em Campina Grande

Foi a minha primeira copa do mundo fora de Parelhas. As outras três que lembro ter assistido e as vagas lembrança da copa de noventa, acompanhei em minha cidade natal. Agora acompanho direto de Campina Grande, o que é até um pouco assustador, não pela cidade, pois pra mim aqui é o melhor lugar para se viver em todo o planeta, mas por ficar ainda mais visível que o tempo passou “voando” e que 2002 parece ter sido ontem.

Lembro que durante a disputa que levou o Brasil ao penta eu já sabia que viria para Campina porque havia passado no vestibular e estava apenas esperando o inicio das aulas. Eu ficava pensando como seria quando a maior competição de futebol do planeta começasse e eu estivesse aqui. Eu pensava no fato de morar fora de casa e reunir galeras para ver os nossos jogadores em ação. “Eu já vou está formado, trabalhando e ganhando dinheiro... vai ser legal...” Era um pouco de meus pensamentos.

Hoje, vejo que os pensamentos não bateram com a realidade por completo, mas algumas coisas mudaram. Não me formei ainda porque falta entregar a “bendita” monografia, o que irá adiar a conclusão do curso para dezembro, mas hoje sou independente, divido apartamento com colega e trabalho na TV Paraíba, o que tem possibilitado ganhar meu dinheiro, que ainda não é muito porque sou estagiário e mesmo que não fosse sou jornalista, então nunca seria muito.

Porém, mesmo com todas as novas experiências, duas coisas não mudaram: continuo vendo a seleção brasileira pela TV na companhia de Galvão Bueno e a euforia da torcida do Brasil.
Só foi uma partida de copa aqui na cidade e, portanto, não tem como avaliar muito bem ainda o pós-jogo, até mesmo pelo desempenho do time de Parreira, que não foi lá tão brilhante. Por isso, o pós-jogo em Parelhas ainda continua sendo mais empolgante. Lá, a torcida sai em carreata atrás do carro de som e quem não tem carro sobe nas carrocerias dos caminhões para participar da festa, que termina sempre na Praça Arnaldo Bezerra.


No entanto, pude constatar que os momentos antes do jogo mexem da mesma forma com os torcedores em toda parte do país.
Saí da TV no inicio da tarde do jogo, depois de um dia de trabalho e fui para o centro da cidade comprar minha camiseta de torcida. Depois de rodar muitas lojas por causa da grande oferta no Mercado, já passava um pouco das três horas quando escolhi a minha. As lojas já começavam a fechar e as ruas pouco a pouco ficavam desertas. Somente os pontos de ônibus estavam lotados.


Entrei em meu ônibus e vivenciei os melhores momentos do dia, até mesmo se comparado às reprises da Rede Globo dos lances especiais da partida durante o intervalo. Logo na porta percebi que a cara do motorista não era das mais agradáveis. E não é difícil imaginar o porquê... Ele teria que trabalhar enquanto as pessoas corriam para casa para não perder nem mesmo as primeiras estrofes do hino nacional. Pra completar, alguns passageiros gritavam: “vai motorista!”, “acelera motorista!”, “motorista, quero assistir o jogo hoje!”


Ao meu lado um sujeito com cara de doido falava sozinho sobre o jogo que estava para começar em apenas alguns minutos e de vez em quando era um dos que mais atormentavam o motorista. Apesar disso, o doido era um dos pouco que não estavam de verde e amarelo dentro do “busão”. Até eu já tinha entrado no embalo.


De vez em quando a figura ao meu lado arriscava puxar uma conversa e quase sempre para perguntar a hora. Na minha frente, uma passageira do tipo raro, pelo menos em dias de copa. Aliás, acho que copa era algo que ela devia odiar e não agüentava mais ouvir a respeito. Ela estava indiferente a tudo que se passava no interior e fora do veículo lendo “as confissões de Santos Agustinho”. A mulher me lembrou muito a minha amiga e editora de imagens da TV Paraíba, Hellen Jeniffer, uma intelectual que gostaria de encontrar um buraco para se esconder para não ser obrigada a ouvir falar de Copa do Mundo.


Na cadeira ao meu lado esquerdo um senhor também não parecia está empolgado com a estréia da seleção, pois cochilava e o corpo ia pra frente e pra trás obedecendo as leis da inércia.
Porém, essas eram as duas únicas figuras indiferentes, porque os demais, sentados e em pé, só queriam está com os olhos na Alemanha.


Ao chegar em casa, na Floriano Peixoto, principal avenida da cidade, já não passava mais carros e era possível até deitar na pista, algo impossível de se ver em uma terça feira à tarde de dia normais. Mas isso não foi surpresa. Surpresa foi chegar em casa e ver que ninguém tava eufórico com a partida do time mais caro do mundo. O meu colega de ap. estava dormindo e os vizinhos nem com a TV ligada estavam. Tive que mudar o quadro.


Peguei logo o aparelho de televisão da vizinhança, por ter uma imagem melhor que o meu e liguei à uma caixa de som com auto-falante de 15 polegadas e um amplificador de 1500 watts, coloquei tudo na varanda e chamei os amigos da rua pra assistir. A festa estava feita, e foi naquele momento que me dei conta, que quatro anos se passaram e que mais uma vez era Copa do Mundo.

Texto escrito na copa do mundo do ano passado e publicado em 15/06/2006